Descrição
O presente artigo tem por objetivo analisar os quatorze contos do livro Alexandre e outros heróis (1970) de Graciliano Ramos, buscando demonstrar como eles se afastam da tradição realista e do biografismo que marcou sua obra e se aproximam dos motivos da cultura popular e do folclore do Nordeste, pode-se até afirmar que os contos bebem na tradição da linguagem oral e se avizinham do fantástico e do maravilhoso. Assim, averiguamos como esses contos, embora independentes, se comunicam e se referenciam uns com os outros, convergindo para um todo harmônico e se tornam histórias encaixadas como bem definiu Todorov (2003). O objetivo geral é demonstrar que Alexandre é um “Homem-narrativa” que, segundo Todorov, é um tipo de narrador que dá vida às inúmeras vozes condenadas a narrar a própria solidão. A metodologia utilizada foi uma pesquisa bibliográfica em que o texto teórico de Todorov (2003) ilumina o texto literário. Procuramos evidenciar ainda como nesses contos a palavra assume uma força mágica numa simbiose perfeita entre o real e o fabulado, amparado na lógica aristotélica: “não é ofício do poeta narrar o que aconteceu e, sim, o de representar o que podia acontecer, quer dizer, o que é possível dizer segundo a verossimilhança e a necessidade” (ARISTÓTELES, 1969, p. 171). Isto posto, notamos que esse narrador de casos mantém viva a tradição da cultura, principalmente, se pensarmos de acordo com Walter Benjamim que estamos cada vez “mais pobres de experiências comunicáveis” (1987, p. 198).