Descrição
Aquem da biopolitica têm pelo menos dois sentidos quando nos aproximamos da obra de Jacques Rancière. Refere, por um lado, o enclausuramento da política no domínio do que ele denomina de policia, por parte de certas formas da filosofia contemporânea, a conta de uma relação de uma copertença entre o poder e a vida que daria conta do funcionamento das sociedades modernas — nesse sentido, aquem significa uma insuficiência na colocação da questão, o fato de reduzir o problema da política à questão das relações de poder1. Mas aquem da politica refere, por outro lado, a postulação contra-intuitiva da política enquanto processo específico, aquém de toda a partilha policial do sensível, isto é, da política entendida enquanto administração efetiva do comum, seja sob suas figuras históricas hegemónicas, seja sob as suas formas menores emergentes — nesse sentido, aquem diz respeito a um espaço transcendental no qual é possível continuar a colocar a questão da emancipação universal além de qualquer superstição historicista, mas também além de qualquer tentativa de redução da política à ética. Explorar o alcance e os limites desses dois sentidos da reserva crítica de Rancière em relação à questão da biopolítica é o modesto objeto deste artigo.