Descrição
Em Uma data em cada mão: livro de horas I, primeiro diário póstumo da escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol, lemos a seguinte formulação: “a primeira imagem do Diário não é, para mim, o repouso na vida quotidiana, mas uma constelação de imagens, caminhando sobre as outras. [...] Eu diria: aqui está a raiz de qualquer livro”. Cabe mencionarmos que na composição da obra dessa autora – sejam nos papéis soltos e/ou nos cadernos – há quase sempre o lugar e data em que os textos haviam sido escritos. De modo que essa prática diária da escrita possa ter se tornado um método que possibilitava a Llansol dar continuidade à sua obra. Ao tomarmos como base essas considerações, pretendemos averiguar de que forma o diário, o qual chamaremos de “Livro-raiz”, pode ser justamente aquele que dá suporte à construção da “textualidade” llansoliana. Para tal, pensaremos na transposição da escrita desse livro para o texto literário, por meio daquilo que Llansol nomeia como “sobreposição”. Objetivamos, ainda, averiguar como esse método parece configurar para a autora um pensamento sobre o livro, ao colocar a escrita sob a proteção dos dias.