Descrição
Ao propor uma “fenomenologia queer”, Sara Ahmed (2006) parte da ideia de que o “estar-no-mundo” queer seria caracterizado por diferenças no relacionamento entre corpos e espaços, em choque com uma lógica heteronormativa hegemônica que está sempre a reiterar a “impropriedade” com que tais corpos (e respectivos olhares) movimentam-se ou perambulam pelos espaços cotidianos. Partindo disso, podemos perceber como uma parte do cinema queer confere uma dimensão resistente a esses corpos e suas imagens, a partir de usos específicos da linguagem audiovisual, como a adoção de uma câmera-corpo e da visualidade háptica, sobrevalorizando uma experiência sensória capaz de reativar as memórias corporais de audiências. Penso essas “sensorialidades queer” como equivalentes audiovisuais da fenomenologia de Ahmed, de modo que este trabalho busca compreender como elas e suas linhas desviantes promoveriam, no cinema contemporâneo, uma partilha da intimidade desses corpos filmados junto ao espectador, estabelecendo conexões afetivas a partir da experiência da precariedade, sob a dimensão coletiva e política inerente às línguas/literaturas menores – ou seja, instrumentos de ação e resistência a partir do afeto e do desejo.