Descrição
Se, por um lado, a distinção formulada por Gilles Deleuze entre filosofia, ciência e arte a partir do que produzem – conceitos, funções, afectos e perceptos – permite-nos organizar os diferentes modos de invenção inerentes aos distintos sistemas, em seus trânsitos, conexões e disjunções, por outro, todo um universo de processos, igualmente criativos, mas ordinários, escapa a essa distinção.
Referimo-nos aqui aos vários modos de reinvenção cotidiana da cidade, da língua, da gestualidade, dos modos de vestir e socializar, de personagens que, anonimamente, alteram traçados dominantes nas mais variadas esferas da vida, instaurando outros circuitos, erigindo cidadelas avulsas, redes sociais desprogramadas.
Para considerar a potência dessas invenções anônimas, muitas vezes sem autoria definida, artes de fazer, mas também de pensar e viver, parece-nos necessário desenvolver um entendimento mais expandido do que sejam redes de criação, como não monopólio exclusivo da arte legitimada como tal, capazes de disseminar outros paradigmas éticos e estéticos.