Descrição
Este artigo propõe uma análise comparativa dos romances Le dernier été des Indiens (1982), do escritor quebequense Robert Lalonde, e Tempos infinitos (1999), do escritor manauara Paulo Jacob, ambos partilhando a temática do relacionamento intercultural entre índios e brancos, dentro da esfera amorosa. Nos dois romances, a transformação interior dos protagonistas, em contato com a alteridade ameríndia, está associada a momentos históricos decisivos tanto para a sociedade canadense (Révolution Tranquille, 1959) como para a brasileira (fim da época áurea gomífera, em torno de 1912). Identidades individual e coletiva entram, portanto, em ressonância, buscando afastar-se do legado colonial, ancorado no presente da narrativa. Identidades de gênero e ameríndia também entrelaçam-se em ambos os romances, dentro de um projeto comum de descolonização tanto dos corpos dos protagonistas, como dos corpos sociais regionais/nacionais nos quais estão inseridos, afastando-se do modelo cultural e sexual de dominação do colonizador. Os conceitos de gênero como ato performático (BUTLER) e de “pedagogia nacionalista” (BHABHA) guiarão esta análise de forma a mostrar os efeitos sedimentados das práticas reiterativas colonialistas na base de construção tanto do corpo individual, quanto do corpo coletivo. À luz desses conceitos fulcrais, serão, enfim, observadas as propostas de Lalonde e Jacob para a construção de uma nova identidade quebequense-canadense e amazônica-brasileira, refletindo sobre a instrumentalização, pelo grupo hegemônico, da cultura indígena e do ideal de miscigenação cultural.||This article offers a comparative analysis of the novels Le dernier été des Indiens (1982), by the Québécois writer Robert Lalonde, and Tempos Infinitos (1999), by the Brazilian Amazonian writer Paulo Jacob, both sharing the theme of intercultural relationship between Indians and Whites within a romantic sphere. In both novels, the inner transformation of the protagonists, in contact with the Amerindian alterity, is associated with key historical moments for both the Canadian (Révolution Tranquille, 1959) and the Brazilian societies (end of the Amazon rubber boom, around 1912). Individual and collective identities enter therefore in resonance, seeking to depart from the colonial legacy, deeply anchored in the narrative. Both gender and Amerindian identities also intertwine in both novels, within a common project of decolonization of both the protagonist’s bodies, and the regional/national social bodies in which they are inserted, moving away from the cultural and sexual model of the colonizer’s domination. The concepts of gender as performative act (BUTLER) and "nationalist pedagogy" (BHABHA) will guide this analusis in order to show the sedimented effects of reiterated colonialist practices on the construction of both individual and collective bodies. In the light of these key concepts, the proposals of Lalonde and Jacob for the construction of a new Québécois-Canadian and Amazonian-Brazilian identities, will be finally noted, reflecting on the instrumentalization, by the hegemonic group, of indigenous culture and the ideal of cultural miscegenation.
