Descrição
Na paisagem social francesa do século XIX, quando a classe operária se definiu contra um papel de dependência, pelo menos entre os operários organizados, a domesticidade masculina desempenha um papel estruturante na cristalização de suas identidades. O doméstico é o modelo por excelência de uma posição de dependência, e em torno dele se articulam representações sociais fundamentais. A análise de dois conflitos sociais protagonizados, entre os anos de 1870 e os anos de 1910, pelos garçons de café e pelos agentes ambulantes do Banco da França pelo direito de usar bigodes desvenda os mecanismos sociais e culturais desse fenômeno. Ela demonstra como o valor masculino – ou feminino – de algumas posições no mundo do trabalho pesa na construção de identidades e de pertencimentos. Os operários se encontram em um campo identitário em que os domésticos formam o pólo feminino, e os militares – enquanto representação de uma masculinidade hegemônica – o pólo viril. Assim, como ilustram os dois casos estudados, eles se posicionam definindo-se em relação a esses dois pivôs identitários e travam uma luta não somente contra seus patrões, mas também contra a clientela e mesmo contra alguns de seus “colegas” cujo status dependia da existência de uma categoria inferior de operários.