Descrição
A partir da leitura do conto “Marido”, de Lídia Jorge (1997), este texto pretende investigar as formas de inscrição da subjetividade feminina na narrativa portuguesa contemporânea. Longe de querer problematizar a possível existência de um “sexo” para os textos, o que aqui se deseja é antes recuperar certa tradição responsável pela fixação da imagem da mulher na literatura ocidental e pô-la em xeque através do doloroso percurso inscrito pela “confinada” Lúcia, personagem construída pela dicção “gaguejante” da ficção de Lídia Jorge. Para tanto, partirei da releitura da figura de Medeia, feita pelo texto teatral de Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes: o emblemático Gota d’água (1975). Contrapondo tradição e ruptura, o texto de Lídia Jorge parece corroborar com a assertiva de Kristeva, quando esta afirma que “o divino nas mulheres corresponde ao seu masoquismo”, criando assim uma outra forma de resistência à violência que incide, historicamente, sobre o corpo feminino.