Descrição
O gótico é indissociável do contexto político em que surge, e permanece, ao longo de sua trajetória, em diálogo com questões relacionadas a poder, controle e transgressão. Não obstante, há momentos em que comentários sociopolíticos assumem protagonismo e os mecanismos do gótico ganham fins retóricos para além da narrativa em si. Caleb Williams, de William Godwin, pode ser tomado como uma das primeiras manifestações desse uso do gótico, em que Fred Botting ressalta a construção de um Estado monstruoso e os horrores da opressão criada por uma justiça corrupta, e que David Punter chamará de “Political Gothic”. Apresenta-se, aqui, a hipótese de que os temas e estratégias presentes nesse uso do gótico se aplicariam também a outro gênero profundamente engajado com seu contexto político-social, a distopia. Buscamos, assim, apresentar como a ficção distópica dá continuidade a essa tradição de representações monstruosas da sociedade.