Descrição
Quando criança, chamaram-me de bichinha. Calado, fiquei.
Pensei: na adolescência, mudará. Quando jovem, chamaram-me de traveca. Calada, continuei.
Matutei: na fase adulta, acabará. Quando adulto, abusada fui.
Questionei: o que sou? Nada sou. Não tenho fala. Não tenho identidade e o isolamento imposto, eu já o vivo há anos. Está em cada lágrima, cada chute e olhar. Está nas marcas que carrego, inclusive, as que não podes ver. Este distanciamento que, agora salva; a mim, sempre me machucou. Como no tapa maternal que me proferistes e na mão do pai a apontar a porta da casa que nunca fora um lar. E agora, quando idosa, nada pronunciaram, já não se importam.