(as outras fazedoras de sentidos): imaginaturas e visuaisvivências das artistas de Goiás||(the other sense makers): culturimagenativeness and visualiving of women artists from Goiás

Descrição

Apresento, nesta tese, a prática artística de quinze mulheres de Goiás partindo do que aqui
delineio e defendo como olhar viajandejo — uma outra possibilidade metodológica para nos
aproximarmos das experiências imaginativas da contemporaneidade. Recusando repertórios e
categorizações que tendem a hegemonizar nossas abordagens visuais, o olhar viajandejo se faz
na vulnerabilidade necessária do afeto e nos deslimita em direção a uma outridade que deixa
de ser convencionalmente “exótica” ou “excepcional” para se colocar diante de nós como uma
outra que também nos afeta-acolhendo-com-o-olhar. É neste duplo movimento de
desfocalização e restituição do olhar que se-apresentam-aqui as artistas-fazedoras Maria
Aparecida Pires, Hilda Freire, Socorro Costa, Dete Teixeira, Simône Maria Silva Aguiária, Márcia
Lemes Malaquias, Emilly Cristina, Madalena Sacramento, Karina Vasconcelos, Maria Selvina
Costa, Di Mendonça, Walda Gomes, Nicolly Costa, Neide Cristina Guimarães e Denise da Silva
Siqueira. São mulheres cidadãs-comuns que deflagram ações transformadoras em suas
comunidades por meio da arte. Sua prática não conta com chancelas institucionais e se
estabelece no que a artista brasileira Renata Felinto chama de “urgências da vida”. Suas
criações, propriamente, quando vistas através da matéria-prima que as fundamenta e
presentifica, como propõe a socióloga e pesquisadora brasileira Denise Ferreira da Silva, podem
sobrepujar os limites da criticalidade e contar a sua própria história. Este exercício reflexivo que
aqui-proponho tem como força-motriz duas palavras-noções, também fundamentais,
constituindo o corpo desta tese: imaginaturas e visuaisvivências. A primeira incorpora uma
tríplice ideia orientada pelas palavras imagem, imaginação e cultura. E a segunda, estabelecida
em analogia com a prática das escrevivências, da escritora brasileira Conceição Evaristo, diz
respeito às presentificações da imaginação, conforme vistas nas experiências artísticas das
fazedoras goianas. A Cultura Visual é o lugar-de-teoria de onde partem os repertórios
conceituais e analíticos que encorpam esta tese, mesmo quando outras áreas do conhecimento
são trazidas à cena como aporte conceitual-reflexivo. Este é, sem dúvida, um trabalho sobre
legitimidade, mas é também uma tentativa de apresentar, a contrapelo, uma outra
epistemologia-do-olhar para nos aproximarmos das imagens artísticas que circulam em
nossas culturas visuais contemporâneas.||In this doctoral dissertation, I examine the art practice of fifteen women from the Brazilian state
of Goiás whose works I approach from a new methodological perspective, which I poetically call
the travel-and-sway look, considered to be a look capable of transforming our ways of seeing
contemporary experiences of imagination. Refusing repertoires and categories that lead us to
conform our visual approaches to the hegemonies of perception, the travel-and-sway look is
built of the exposure to an affective get-through view that allows us to look at the otherness
preventing them from being converted into “the exotic” or “the exceptional.” My approach is
based on a two-fold movement of defocalization and reparation by which the fifteen women
artists who participate in this study, also referred to as “the other visual sense-makers,” are
presented. These artists are: Maria Aparecida Pires, Hilda Freire, Socorro Costa, Dete Teixeira,
Simône Aguiária, Márcia Malaquias, Emilly Cristina, Madalena Sacramento, Karina Vasconcelos,
Maria Selvina Costa, Di Mendonça, Walda Gomes, Nicolly Costa, Neide Guimarães, and Denise
Siqueira. They are everyday-life women who have transformed their communities’ ways of
seeing and of being seen through art. Their artistic practice is not institutionally legitimated
taking place at the crossroads of imagining, imaging, and living, for which reason Brazilian artist
Renata Felinto perceives of it as carried out “in the urgency of life.” If we look at these women
artists’ crea(c)tions as compositions whose materiality directly reflects on their art practice
in relation to the realm of living experience, our reading of these women’s cultural production
can set up an approach that expands their relevance as artists beyond the bounds of criticality
paving the way for a poethical view, as proposed by Brazilian sociologist and scholar Denise
Ferreira da Silva. My attempt in this doctoral dissertation is thus to uncover how art practice’s
knowability must result from our interest in approaching it as a social fact that breaks out of
the traditional space of art to become a part of ordinary people’s culturimagenativess and
visualiving.||En esta tesis doctoral doy cuenta de la práctica artística de quince mujeres de la provincia
brasileña de Goiás, partiendo de lo que aquí esbozo y defiendo como una mirada-viajandera,
que no es más que otra forma metodológica para acercarnos a las experiencias imaginativas en
la contemporaneidad. Rechazando repertorios y categorías que nos llevan a adaptar nuestros
enfoques visuales a las hegemonías de la percepción, la mirada-viajandera se descubre en la
necesaria fragilidad de una mirada afectuosa y nos conduce hacia un otro lugar de aproximación
a la imagen artística donde ya no es forzoso el encuentro con una otredad que nuestros ojos
antes veían como “exótica” o “excepcional”. Mi propuesta parte de un doble movimiento de
desfocalizatión y reparación de la mirada mediante el cual se presentan las quince mujeres
artistas que participan en esta investigación (o “las otras creadoras de sentido visual”, como
también las llamo): Maria Aparecida Pires, Hilda Freire, Socorro Costa, Dete Teixeira, Simône
Aguiária, Márcia Malaquias, Emilly Cristina, Madalena Sacramento, Karina Vasconcelos, Maria
Selvina Costa, Di Mendonça, Walda Gomes, Nicolly Costa, Neide Guimarães y Denise Siqueira.
Son mujeres de la vida cotidiana que han transformado sus existencias y las de sus
comunidades a través del arte. Su práctica cultural no está legitimada institucionalmente y se
da en la encrucijada entre imaginar y sobrevivir, por lo que la artista brasileña Renata Felinto
la percibe como una práctica realizada en “las urgencias de la vida”. Si miramos las
crea(c)ciones de estas mujeres artistas como composiciones, cuya materialidad se refleja
directamente en su práctica artística (que se constituye) en relación con el ámbito de la
experiencia vivida, nuestra lectura de sus trabajos artísticos puede superar los límites de la
criticidad y ampliar el camino para una mirada poética-ética, como propone la socióloga y
investigadora brasileña Denise Ferreira da Silva. Mi intento en esta tesis doctoral es demonstrar
cómo la aproximación a la práctica artística depende de nuestra honestidad con lo real, es decir,
de nuestro interés en abordarla como un acontecimiento social que rompe el espacio tradicional
del arte para convertirse en la culturimagin(e)nación y visualesvivencias de la gente
común. La Cultura Visual es el lugar-de-teoría desde donde parten los análisis que sustentan
esta tesis, que es una tentativa de construcción de una otra epistemología de la mirada para
acercarnos a las imágenes que circulan en nuestras culturas visuales contemporáneas.||La présente thèse a pour dessein d’analyser la pratique artistique de quinze artistes femmes de
l’État brésilien du Goiás, sur la base de ce que j’appelle ici le regard-voyagertigineux, qui
n’est qu’une autre approche méthodologique aux expériences contemporaines de l’imagination.
En refusant les catégories qui nous poussent à conformer nos approches visuelles aux
hégémonies de la perception, le regard-voyagertigineux se découvre dans la nécessaire fragilité
d’un regard affectueux et nous permet d’aborder l’altérité sans la considérer comme une image
« exotique » ou « exceptionnelle ». Mon positionnement épistémologique est lié à un double
mouvement de défocalisation et de réparation (du regard) par lequel sont présentées les quinze
femmes artistes qui participent à cette recherche (« les autres créatrices des sens visuelles »,
comme je les appelle aussi). Ces artistes sont : Maria Aparecida Pires, Hilda Freire, Socorro
Costa, Dete Teixeira, Simône Aguiária, Márcia Malaquias, Emilly Cristina, Madalena Sacramento,
Karina Vasconcelos, Maria Selvina Costa, Di Mendonça, Walda Gomes, Nicolly Costa, Neide
Guimarães et Denise Siqueira. Ce sont des femmes de la vie quotidienne qui transforment leur
existence et celle de leur communauté à travers l’art. Leur pratique n’est pas légitimée au
niveau institutionnel, mais se situe au carrefour entre l’imagination et la vie; c’est la raison,
d’ailleurs, pour laquelle l’artiste brésilienne Renata Felinto la perçoit comme une pratique
réalisée « dans l’urgence de la vie ». Si nous prenons les créa(c)tions de ces femmes artistes
comme compositions dont la matérialité reflète directement leur pratique artistique (qui se
constitue) en relation avec le domaine de l’expérience, notre compréhension de leur production
culturelle peut dépasser les limitations de la critique et ouvrir la voie à une vision poéthique,
comme le propose la chercheuse brésilienne Denise Ferreira da Silva. Mon objectif consiste donc
à démontrer que l’approche de la pratique artistique dépend de notre honnêteté envers le réel,
c’est-à-dire, de notre intérêt à l’approcher comme un événement social qui rompt avec le « lieu
traditionnel » de l’art et considère la cultur’imagin(e)nation et les visualités-vécues des
gens ordinaires.||Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás