Descrição
O objetivo do presente trabalho é discutir a forma como o escritor brasileiro Milton Hatoum revive os mitos em sua novela Órfãos do Eldorado (2008) e os ressignifica através de um viés literário. Para tal, tomamos como base os pressupostos teóricos de Frye (1957) sobre os rumos da ficção, uma vez que na obra ora analisada, o autor faz uma ‘deslocação’ extrema dos mitos da Cidade Encantada e do Eldorado, chegando ao nível da ironia. Contudo, como a realidade não consegue suprir os anseios da narrativa, o retorno a esses mitos se faz imperativo, para que Arminto, que é o personagem principal e narrador da obra, não sucumba. O artigo traz ainda em seu bojo discussões acerca da formação mitológica que abraça o Eldorado e a Cidade Encantada na época das grandes navegações e como essas concepções distintas atingem colonizados e colonizadores, para formar o imaginário cultural da região Amazônica. Importa notar que todas as representações de Eldorados presentes na trama – paraíso perdido, embarcações naufragadas – tendem ao fracasso e à falência, por isso, a partir de discussões literárias, históricas, sociais e psicológicas, buscamos perceber em que medida o mito, único caminho possível, entra em conexão simbólica com os acontecimentos domésticos e se mostra também, simbolicamente indissociáveis do meio social.