Descrição
Este artigo analisa o modo pelo qual os Rikbaktsa falam sobre e produzem suas “diferenças”, incluindo aquelas de gênero, sexo e outras modalidades de relação, com destaque para as práticas homoeróticas femininas. Centrado nas biotecnologias nativas e investigando sobre seus “dados bio-lógicos de base”, ele destaca a maestria exercida pelas mulheres sobre a produção de “pessoas” e de suas relações, em uma sociedade patrilinear e com ideias patricentradas sobre concepção, praticante da paternidade múltipla. A etnografia rikbaktsa sugere a reconsideração dos modelos hegemônicos para explicar os regimes de socialidade ameríndios e as sexualidades de povos indígenas brasileiros, diante do ressurgimento contemporâneo do tema. Por fim, o artigo explora alguns dilemas do fazer etnográfico e da representação na teoria antropológica.||This article analyses the way in which the Rikbaktsa speak about and produce their ‘differences,’ including those of gender, sex and other relational modalities, with an emphasis on female homoerotic practices. Centred on native biotechnologies and investigating their ‘base bio-logical data,’ the text explores the mastery exercised by women over the production of ‘persons’ and their relations, in a patrilinear society with patricentric ideas of conception, practicing multiple paternity. Rikbaktsa ethnography suggests the need to reconsider the hegemonic models used to explain Amerindian regimes of sociality and the sexualities of indigenous peoples in Brazil, prompted by the contemporary resurgence of the theme. Finally, the article explores some of the dilemmas of ethnographic practice and representation in anthropological theory.