Descrição
Este artigo visa apresentar a alternativa historiográfica formulada por Michel de Certeau à história das idéias religiosas promovida na França pós II Guerra Mundial. Em resposta à sugestão da Companhia de Jesus para que colaborasse com a reconstituição da história inaciana, Certeau desenvolveu importantes estudos críticos sobre os jesuítas Pierre Favre e Surin. Sugere-se que, nesse processo, se Certeau manteve certa afinidade com a história das ideias, por refutar a fragmentação da interpretação do discurso religioso em diferentes metodologias e saberes, privilegiando a compreensão de seus princípios organizadores, ele também inovou ao indicar que a necessidade do reconhecimento de uma perda existencial e epistêmica, inerente à tradução da experiência religiosa pela linguagem. Observe-se, porém, que tal falta conteria uma positividade intrínseca, porque ela suscitaria inúmeras releituras, vindo então a ser denominada por Certeau como “autoridade”. Em paralelo, essa mesma ausência desencadearia práticas enunciativas voltadas à interlocução com a Alteridade, indissociáveis de um ato de crer e da constituição de uma intersubjetividade na comunicação social.