Descrição
Este artigo tem como ponto de partida o interesse recente que os dados censitários sobre a religião e os sem religião promovem na grande mídia, em particular nos dois jornais impressos de maior circulação no país, a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo. Examinaremos a natureza desse interesse e suas implicações ao longo destas últimas décadas no âmbito acadêmico. Tendo em vista que o Estado brasileiro tem uma política censitária profissional e regular desde a década de 1940, analisaremos o modo como as categorias censitárias sobre a religião foram modificadas nos últimos levantamentos com a colaboração de pesquisadores e estudiosos. Tomaremos essa variação categorial como indicativo de uma mudança progressiva da sensibilidade pública e acadêmica com relação à diversidade religiosa e à não religião. Inspiradas no conceito de governamentalidade de Foucault, estamos trabalhando com a hipótese de que os Censos põem em cena as religiões e a não religião como problemas públicos e, por se constituírem em importante instrumento de governo das populações, suscitam ao mesmo tempo reflexões acadêmicas e mecanismos para a sua regulação.