Descrição
O artigo explora o desenvolvimento do conceito de família no discurso ficcional de Valter Hugo Mãe. Recorrendo à leitura do romance O filho de mil homens (2011), propõe-se a discussão e alargamento desse conceito. Considerando família como estrutura capaz de amparo e responsabilização pelos membros, escolhidos livre e afetivamente, o modelo desse grupo se amplia consideravelmente no texto do escritor português. A leitura analítica do romance é acompanhada pela crítica sociocultural, a fim de apontar as transformações sofridas por essa forma de organização social e desestabilizar políticas que restringem o espartilho familiar. Segue-se a ideia de que as “famílias em desordem”, mutiladas pelo despedaçamento da ordem unívoca que as sustentou (ROUDINESCO, 2003), reconfiguram-se novas dinâmicas. A família assume a característica de ser “frágil, porosa e expansiva” (BUTLER, 2001, p. 41). O parentesco emerge como paradigma de uma ‘afiliação consensuada’ ou uma ‘organização social de uma necessidade’ – em outros termos, nasce a possibilidade de ‘invenção’ de uma família. Porém, essas formas de ‘família’ se articulam fragilmente com o Estado e sociedade. A narrativa de Mãe incide no turbilhão desse rearranjo e desarranjo familiares.