Descrição
Este artigo trata da experiência do povo K«sêdjê (Suyá) com umcontrato de cessão de direitos sobre grafismos para um fabricante de sandálias,incluindo a utilização de um padrão de pintura corporal feminina parafins publicitários. Dois aspectos desta experiência vão reter a atenção: primeiro,a dificuldade posta pelo fato de que os padrões de pintura corporalfeminina então utilizados pelos K«sêdjê eram todos parte do repertório gráficoalto-xinguano, não lhes pertencendo, portanto, e sim a seus vizinhos.Segundo, as negociações que se seguiram ao que os K«sêdjê interpretaramcomo uma quebra de contrato quando, um ano depois, desenhos que reconheciamcomo seus foram reaproveitados em sandálias de outra linha domesmo fabricante. O primeiro momento servirá de ponto de partida parauma tentativa de delinear certos aspectos do modo de criatividade próprioaos K«sêdjê. A partir do segundo, serão abordadas as diferentes concepçõesda natureza dos produtos dessa criatividade sustentadas pelos diversos atores(e da forma das transações em que figuraram), confrontando o que chamareio modelo do contrato e o modelo da troca. À guisa de conclusão, proponhover esses dois modelos como correspondendo a distintos modos decriatividade, os quais implicam diferentes concepções de “propriedade”.