Descrição
O objetivo deste artigo é apresentar apenas algumas noções que contribuem para uma análise da relevância atribuída, a partir do final do século XX, à questão da parrhesia em sua relação com o cuidado de si no pensamento de Pierre Hadot, Martha Nussbaum e Michel Foucault. Enquanto Hadot a dilui em análises daquilo que denomina exercícios espirituais, por meio da concepção de filosofia como modo de vida, Nussbaum a integra à noção de argumento terapêutico, concentrando-a em um capítulo dedicado ao método terapêutico epicurista. Já Foucault amplia, em seu pensamento tardio, a investigação do uso da parrhesia, considerando-a uma das técnicas fundamentais das práticas de si da Antiguidade. Ele a conceitua, busca sua genealogia política (democracia) e explicita sua extensão ao campo da ética, tomando-a como base para uma crítica da forma moderna de relação entre verdade, poder, sujeito e liberdade. Para tanto, especifica retrospectivamente toda a trajetória de sua própria obra, bem como seus deslocamentos teóricos em relação ao pensamento filosófico contemporâneo. Apesar das importantes variações de amplitude, diferenças e contraposições atribuídas por esses três filósofos à noção de parrhesia, suas pesquisas constituem um eixo temático que circunscreve uma importante preocupação filosófica contemporânea e permite traçar um domínio de pensamento, estabelecido, por um lado, por meio do problema foucaultiano do contrapoder, da resistência, do governo de si e dos outros; por outro lado, por meio da questão de Nussbaum acerca do argumento terapêutico.