Descrição
A prova ontológica cartesiana tem duas partes: a primeira consiste em inferir da idéia clara e distinta da essência de Deus o conhecimento verdadeiro dessa essência, que é caracterizada como a de um ente sumamente perfeito. A segunda parte tem como premissa inicial o conhecimento da essência de Deus. A partir desse conhecimento é provada a sua existência. A principal objeção à primeira parte da prova se baseia na crítica de S. Tomás ao argumento de S. Anselmo. Ela consiste em mostrar que da idéia (ou do conceito) de Deus é legítimo inferir a idéia da existência de Deus. Assim, se Deus é pensado, então é necessariamente pensado como existente. Mas do conceito de Deus não se pode inferir a sua existência, como pretendeu demonstrar o argumento de S. Anselmo. Os principais objetores da segunda parte da prova são Gassendi, Kant e alguns filósofos analíticos. Essas críticas se apóiam na tese de que existência não é um predicado real ou não é um predicado de primeira ordem e que, portanto, não pode ser uma propriedade de objetos, embora possa ser uma propriedade de conceitos (ou funções proposicionais). Se a prova cartesiana tem alguma plausibilidade, ela deve se esquivar dessas críticas. Nesse trabalho, pretendemos reconstruir essa prova tendo como fio condutor as objeções acima mencionadas.