Descrição
Neste artigo apresentamos uma análise da permanência ou desuso de itens lexicais do Kaingang, devido ao contato com o Português Brasileiro. Para isso, traçamos um comparativo de dados coletados em nossa pesquisa de campo feita em 2016 e 2018, nas Terras Indígenas de Nonoai e de Serrinha (Rio Grande do Sul), com dados presentes nas listas vocabulares ou dicionários (Vocabulário da língua bugre (1852); Val Floriana (1920); e Wiesemann (2002)). Dados coletados recentemente nos permitiram identificar a predominância de dois processos para a nomeação de elementos culturais emprestados: os empréstimos lexicais (p. ex. kãvãru [k)w)ÈRu] ‘cavalo’, bi[s]i[kl]eta bicicleta’) e as criações endógenas (AUTOR2 & AUTOR1, no prelo: p. ex. goj kron fã (“bebedor” de água para ‘bebedouro’). Baseando-nos na metodologia sociolinguística (Weinreich, Labov & Herzog, 1968), a proposta central deste trabalho foi verificar criações endógenas em competição com os empréstimos, uma vez que a preferência pela primeira estratégia pode indicar uma atitude linguística de preservação lexical da língua indígena, por parte dos falantes. Também discutimos a relevância de tornar conscientes esses processos no ensino da língua indígena materna e para os falantes em geral, de modo que possam servir como ferramentas de preservação lexical da língua minorizada.