Descrição
Este artigo tem como objetivo analisar o papel concedido por Freud à vivência de satisfação e à vivência de dor no desenvolvimento dos processos psíquicos normais e patológicos em diferentes momentos de sua obra. Pretendemos argumentar que, na etapa final de sua teoria, mais especificamente no texto Inibição, Sintoma e Angústia, de 1926, Freud passa a situar experiências traumáticas reais na origem do psiquismo e das neuroses, o que representa, de certa forma, uma retomada e colocação em primeiro plano da hipótese da “vivência de dor”, formulada no Projeto de uma psicologia (1895/1950). Com essa retomada da hipótese da vivência de dor, Freud enfatiza o papel de um fator biológico inevitável – o desamparo e prematuração do ser humano ao nascer – na predisposição à neurose, o que representa uma modificação significativa da teoria sustentada, ao longo da maior parte de sua obra, segundo a qual o desejo e a oposição que as exigências da cultura impõem a esse seriam os principais fatores determinantes das neuroses.