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Educação científica
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Metadados
Descrição
Embora “habilidades do século XXI” sejam principalmente modismo, entre elas aparece muitas vezes a noção de “educação científica” (Ratcliffe & Grace, 2003. Compayré, 2009), ou “espírito científico” (Bachelard, 1986. Macallum, 2009), e igualmente de “educação matemática” (Lesh et alii, 2007. Biehler et alii, 1993). Aparece, ademais, a noção de “alfabetização científica” (Roth, 2004. Akdur, 2009), sugerindo que “novas alfabetizações” (Coiro et alii, 2008), ultrapassando significativamente a tradicional (ler, escrever e contar), exigem formação científica claramente, entre outras razões, para corresponder à sociedade intensiva de conhecimento (Castells, 2004). Em grande parte, por trás está a expectativa cada vez mais insistente de que produção própria de conhecimento é o diferencial maior das oportunidades de desenvolvimento, como sugere Amsden (2009): a chance dos países emergentes (chamados de “resto”) estaria na capacidade de valorizar conhecimento mais que o mercado e outras estratégias, contando também com o apoio do Estado.Educação científica vem muito antes das habilidades do século XXI, sendo preocupação e desafio tradicionais em países mais avançados, em especial naqueles em que as universidades são tipicamente de pesquisa (não de ensino) e o professor se define pela autoria, não pela aula (Duderstadt, 2003). Como sugerem Amsden e Duderstadt, “pessoas educadas e suas idéias” são a autêntica riqueza das nações, o que tem encontrado eco substancial em ambientes virtuais usados para fomentar a autoria individual e coletiva, como é o caso notório da wikipedia (Lih, 2009). Apesar de controvérsias ácidas em torno da wikipedia (O’Neil, 2009), nela pode-se aprender como fazer um texto científico de qualidade, discutir produtivamente online, preferir a autoridade do argumento ao argumento de autoridade, participar do ambiente científico sem pruridos acadêmicos. Como observa Friedman (2005) em sua obra “o mundo é plano”, há diferença fatal entre países que apreciam ciência e incentivam o estudo e outros que se orientam por outros valores tradicionais. Em sua sugestão, países latinos, entre outros, não se dedicam de modo satisfatório ao desafio da educação científica. Os jovens são atraídos pelo sucesso profissional sem estudo, como pode ocorrer com jogadores de futebol, atores, modelos, cantores etc. De fato, entre nós “estudar” ainda faz parte das atividades similares a castigo (Demo, 2008). Neste texto busco explorar a argumentação em favor da educação científica, em tom também crítico ao positivismo reinante nesta discussão. Tomo como foco que educação científica só poderia progredir mais visivelmente, se cuidássemos bem melhor da formação docente: se o docente só dá aula, sem produção própria, não podemos superar o instrucionismo dominante na escola e na universidade (Demo, 2009). Para que o aluno aprenda a produzir conhecimento, antes precisamos resolver a questão do professor, redefinindo-o por sua autoria.
ISSN
2359-232X
Autor
Demo, Pedro; Universidade de Brasília - UNB
Data
9 de junho de 2014
Formato
Idioma
Fonte
Revista Brasileira de Iniciação Científica; v. 1, n. 1 (2014); 02-22 | 2359-232X
Tipo
info:eu-repo/semantics/article | info:eu-repo/semantics/publishedVersion