Descrição
A festa no Antigo Regime era um espaço fundamental para a apresentação do poder. Independente do gênero, civil ou religioso, as celebrações públicas constituíam parte primordial dos índices de sociabilização, tanto entre a Coroa e os súditos como entre as instituições administrativas e as outras coroas. Através de um corpo rígido de cerimônias, o poder estabelecido criava uma litúrgia cívica, idiossincrática, estabelecendo a priori uma relação de dependência entre os súditos e o soberano pela forte marca dos simbolismos cristalizados na representação do poder; em síntese, era a vigência de um paradigma estamental da sociedade. No entanto, a festa também constituía um espaço de negociação, já que a representação de uma sociendade em tese rígida nas relações interclasses nem sempre ocorria dentro da harmonia desejada. Assim, tanto as formas dramáticas como os padrões de administração do espaço lúdico constituíam-se no vórtice de negociações veladas ou explicitas, forjadas não só nos conceitos políticos, mas também nas realidades possíveis de exercício do poder. Esse artigo trabalha justamente com os conflitos que envolviam músicos, músicas e autoridades, religiosas ou civis, na consecusão das festas no Brasil colonial. Através do estudo de casos, o texto tenciona demonstrar os usos e costumes do exercício da profissão e as suas relações com os paradigmas das políticas vigentes