Descrição
O presente artigo se dedica ao estudo do romance A Gloriosa Família: o tempo dos flamengos (1999), de autoria do escritor angolano Pepetela. Trata-se da releitura dos sete anos em que Luanda permaneceu sob dominação holandesa, no período de 1641 a 1648, tendo como foco narrativo a família de Baltazar Van Dum, um holandês católico, comerciante de escravos, que se envolve em uma série de conflitos para manter sua posição durante a guerra entre portugueses e holandeses. Toda a trama é narrada pelo escravo pessoal de Baltazar, traçando um deslocamento das vozes do colonizador e do colonizado. Este deslocamento se caracteriza pela transgressão, dado que o autor elege como narrador um escravo, mulato, mudo e símbolo das misturas de raças, crenças e culturas ocasionadas pelo colonialismo. Diante disso, pretende-se verificar de que modo o romance se insere no quadro de representação do passado e construção da identidade, sob o prisma das relações entre Literatura e História e a partir de algumas ideias chave das teorias pós-coloniais. O livro de Pepetela se constitui a partir de um relato pessoal, no qual é possível apreender um importante período da colonização angolana com severas implicações também na formação do Brasil.