Descrição
O artigo discute a articulação e retroalimentação entre aspectos composicionais e concepcionais na construção da cena “Professora”, presente no texto “Contra o Progresso” de autoria do catalão Esteve Soler. A noção de dramaturgia de ator, perspectiva de pesquisa em que o trabalho foi criado, pressupõe uma abordagem composicional tramada à consciência e atitudes críticas em relação à criação. Ao ocuparem um lugar de autonomia e coautoria, atuadores exercitam seu posicionamento político, ético e epistêmico. A concepção que moveu a construção da cena a ser discutida orientou-se, dentre outros aspectos, pelo desejo de metaforizar uma crítica à instituição escola em seu formato perverso de domesticação e apagamento de singularidades. Na perspectiva abraçada, a personagem tornou-se dialeticamente devorada e devoradora, oprimida e opressora, refletindo o contexto complexo que caracteriza o sistema de ensino convencional. A encenação investe em efeitos de presença buscados no jogo da atuação com a materialidade cênica, visando provocar a emergência de sentidos e sensações no espectador. A cena busca o acionamento de uma recepção ativa, crítica e sensória como estratégia micropolítica de mobilização do público.