Descrição
Este artigo tem por objetivo geral mostrar em que medida a interpretação é um fenômeno que − como a argumentação − está inscrito na própria natureza da língua. Com base nos estudos e pesquisas em Semântica Argumentativa, partimos da hipótese de que a significação das palavras é um fator determinante não apenas para a construção do sentido dos enunciados, mas também para o estabelecimento de um possível "percurso de leitura", por meio do qual se depreende o sentido global do discurso. A fim de elucidarmos − de um ponto de vista semântico − esse recurso essencialmente cognitivo que torna possível a interação entre os homens, analisamos dois discursos literários, a saber: um fragmento do Livro do desassossego, de Bernardo Soares, e o segundo poema de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro, ambos de autoria desses dois referidos heterônimos de Fernando Pessoa. As análises desse corpus literário mostram que a interpretação textual está subordinada à significação das palavras, às relações entre as palavras, entre os enunciados, entre as partes do discurso, bem como às instruções que o enunciado dá de sua própria enunciação.