Descrição
Esta reflexão objetiva apresentar leitura crítica do romance experimental Me nina, de Gustavo Bernardo. O ensaio levantará algumas questões nascidas no jogo empreendido no ato de ler. Desde o título, a obra provoca estranhamento em decorrência de polissemia desencadeada por homonímia. Na dinâmica da língua oral, estabelece-se coincidência entre o substantivo feminino singular, “menina”, e o pronome oblíquo de primeira pessoa seguido do verbo “ninar” no imperativo, “me nina”. Na escrita, a identidade sonora é suspensa, dado o espaço em branco instaurador do silêncio. Assim, o título anuncia tecido perpassado pela falta, pela ruptura. Nele há investimento no lacunar, no não dito, movimento já desejante de um leitor dos interstícios. Nesse processo, perscrutamos a história dos irmãos Timo, Taman e Talia, em estado de desorientação e incertezas, por meio de narração estilhaçada e melancólica. Sendo assim, encaramos o romance como narrativa de memórias recuperadora da espessura dos instantes e de fragmentos do passado. Partindo dessa consideração, problematizaremos questões relativas à construção da instância narrativa que rememora, à rememoração e à linguagem em que este processo se consubstancia.