Descrição
Este ensaio pretende mostrar que a escritura tem uma faceta errante, ébria, que se (des)organiza sobre as ruínas da representação, que exerce seu poder de sedução sem se sustentar nas verdades da ordem racional. A escritura em questão é o conto “O homem que sabia Javanês”, de Lima Barreto, um relato regado a cerveja, pormenor visto por Massaud Moisés como uma falha, e que esta leitura propõe como uma exorbitância que contribui para manifestar o inacabado, o disforme do Texto. Assim, propomos pensar o conto de Lima Barreto como o espaço dos desacertos da escritura, em que o texto se escreve desprovido da segurança da ordem e do saber, em que os discursos se superpõem sem vislumbrar aonde vão chegar,em que a insolubilidade afasta a possibilidade dialética. Sintomaticamente, a narrativa de Lima Barreto sugere com bastante vigor que o verbo “sabia” do título deve ser lido como “não sabia”.