Descrição
O presente artigo mostra que O teatro cômico, de Carlo Goldoni, é uma peça que deve ser lida em toda sua pluralidade expressiva. A função de “poética em ação” deste texto, apontada pelo próprio autor em suas Memoires é, na verdade, parte de uma estratégia maior de Goldoni, que não deseja se afirmar simplesmente como mais um ”poeta de companhia”, mas como dramaturgo. Para além do conhecido desejo de expurgo dos palcos, numa Veneza cujo viço teatral, à época, não tinha igual em toda Europa, a reforma de Goldoni, que esse texto metateatral expõe em andamento, como um manifesto de estética, foi “culpada” de querer retirar do ator aquela centralidade que as velhas companhias da arte lhe haviam dado, e transferi-la ao autor, para que este pudesse responder aos seus desejos iluministas deatribuir à comédia uma função moral. Assim Goldoni realizou sua reforma aos poucos, com grande senso de realidade. Em jogo paradoxal, no entanto, a velha Improvvisa italiana ficará eternamente conhecida como Commedia dell’Arte justamente graças a Goldoni e a essa peça.