Descrição
O objetivo deste artigo é explorar algumas relações teóricas e clínicas decorrentes das concepções de real e realidade na obra de Lacan. O argumento central é de que a disparidade entre estas duas noções se desdobra em uma importante tensão, a ser mantida, entre ética e epistemologia, no quadro da apreensão filosófica do tratamento psicanalítico. Salienta-se como a perspectiva assumida pelo programa de uma ontologia negativa permite traçar uma linha de diálogo entre diversos projetos clínico teóricos da psicanálise contemporânea, bem como situar alguns marcos significativos na relação entre psicanálise e filosofia. O artigo levanta ainda duas questões que surgem como significativas para os desdobramentos de uma ontologia do negativo em psicanálise: (1) a sua relação com o paradigma da subjetividade melancólica, que caracteriza o surgimento histórico da psicanálise na modernidade; e (2) a sua relação com os traços distintivos que marcam o pensamento sobre o real nas filosofias do século XX.||This paper deals with the relationships between theoretical and clinic instances deriving from Lacan’s conception of the real and of reality. It’s main argument is that the disparity between the latter notions is the spring of the insurmountable tensions between ethics and epistemology, one that a philosophical regard shows to be constitutive of the psychoanalytical practice. Lacan’s program of a negative ontology allows us to establish connections between different trends in psychoanalytical thought and practice as well as in general between psychoanalysis and philosophy.