Descrição
Conforme o cineasta Walter Salles Junior, o cinema, ao narrar histórias de todos os tipos, subterraneamente, narra a nação, esta forma de narrativa infinita, como um role playing game autoral e coletivo. Este artigo, portanto, trata de duas guerras que sulcaram a identidade nacional em tempos e espaços distintos: o conflito travado em Canudos, em 1896-97, e a chacina do presídio do Carandiru levada à tela por Hector Babenco em filme de 2003, no qual o diretor retoma subterraneamente uma guerra no sertão de fins do século 19, estabelecendo uma (des)continuidade da crítica histórica com vistas ao devir da violência “cármica” nacional na contemporaneidade. No segundo movimento deste artigo, analisamos os desdobramentos de Os Sertões em chave contrapontual, partindo do documentário metaficcional A Matadeira (1994), do diretor gaúcho Jorge Furtado. O filme, autoirônico e assumidamente fake e antirrealista, propõe repensar o arquivo imagético da Guerra de Canudos mediado por um olhar paródico dos textos da “história oficial”.