Descrição
Em 1983, no curso Le gouvernement de soi et des autres (2008), Foucault lê o pensamento político de Platão a partir do pano de fundo da governamentalidade. Dessa perspectiva, ele privilegia no pensador grego mais a preocupação com o modo conveniente do real exercício do governo do que sua conhecida proposição de uma cidade ideal, de um regime político, de uma constituição. Essa leitura explica a preferência da análise das Cartas de Platão, comparativamente a outros textos maiores, como A República e As leis. Ela também ajuda a compreender por que jamais foi objetivo de Foucault elaborar outra teoria do pensamento político em Platão somente desde o discurso filosófico. Em vez disso, ele preferiu referir tais discursos (logoi) às práticas (pragmata) e às obras (erga) designadas pela coragem de verdade (parrhesia) a partir do conselho filosófico dirigido ao soberano político. Se de um lado Foucault quer mostrar o fracasso de uma parrhesia política protagonizada pelos governantes contemporâneos a Platão, de outro entende que é pelo exame dos limites e possibilidades dos modos de governar da racionalidade política que a filosofia encontra sua realidade.