Descrição
O presente artigo indica a possibilidade de se pensar a história de Moçambique através das dinâmicas de deslocamento na província central de Tete, enfocando em dois principais elementos: O romance As duas sombras do rio (2003) do historiador e ficcionista moçambicano João Paulo Borges Coelho e as trajetórias de vida da Senhora Amélia (vila de Songo) e do Senhor Francisco (vila do Zóbuè) entrevistados durante pesquisa de campo, somado a algumas fontes documentais. Argumenta-se que o diálogo entre as trajetórias de vida e o romance (que também apresenta personagens reais) indica que apesar da persistência dos deslocamentos forçados resultantes da guerra de libertação (1964-1974), da guerra civil (1976-1992), dos projetos políticos de reordenamento (aldeamentos coloniais, aldeias comunais e os atuais reassentamentos) parte da população de Tete se deslocou por conta própria motivada por situações diversas, incluindo religião e espiritualidade, conforme aponta este texto.