Descrição
Desde o poema-partitura Un coup de dés (Mallarmé), caminhos da poesia parecem sugerir uma leitura que reabilitaria o potencial sonoro da palavra. Uma aproximação entre poesia e música, ou um caminho para a emergência de uma musicalidade da fala na escrita. Há uma performance que se põe em jogo na leitura, da qual o próprio sentido do poema passa a depender. Haveria aí um tipo especial de “poéticas vocais”, empenhadas no fluxo da palavra falada, buscando tornar palpável e sensível, mesmo na leitura silenciosa de cada leitor, a presença da voz que fala, grita, murmura, gagueja ou balbucia. Tal expressão teria como principais porta-vozes Samuel Beckett, Ghérasim Luca e, mais recentemente, Christophe Tarkos. O artigo apresenta essas poéticas vocais, explorando os potenciais de contágio na poesia escrita pela vocalidade da leitura em simpatia com percurso semelhante dado na música do século XX: da nota musical abstrata à imersão na concretude do som.