Descrição
O estudo investigou as representações de fracasso escolar de professores do Ensino Fundamental que trabalham com alunos multirepetentes, bem como as relações entre estas representações e as práticas docentes. Trata-se de uma pesquisa qualitativa tendo como suporte teórico a teoria das representações sociais na perspectiva processual proposta por Serge Moscovici e Denise Jodelet. Os dados foram coletados por meio da observação, durante um ano letivo, do cotidiano escolar de três turmas de 6ª série com alto índice de alunos multi-repetentes e de entrevistas conversacionais com todos os seus professores, em número de nove. Os resultados indicaram que, dentre os elementos que compõem o campo da representação de fracasso escolar, destaca-se o “mau aluno” caracterizado por suas faltas: de interesse, de capacidade para aprender, de conhecimentos, de apoio da família, de perspectivas em uma sociedade desigual. O fracasso passa a ser objetivado como uma conseqüência natural dessas faltas. Foi observado ainda, o isolamento espacial e acadêmico dos mesmos. Os professores além de não os estimularem a participar, freqüentemente os desencorajavam, fazendo comentários jocosos quando eles erravam e até mesmo quando acertavam a resposta. Indagados sobre o isolamento desses alunos, os professores o consideraram “natural”, sendo que alguns expressaram o receio de que, se fossem reagrupados, os bons alunos poderiam ser “contaminados” por eles. A análise retórica do corpus de enunciados da pesquisa confirmou que o sentido da representação de “fracasso escolar” parece estar ancorado à metáfora “doença contagiosa”, metáfora esta já observada em diversos documentos históricos . relacionados ao iletramento, conforme relata Lahire.
