Descrição
Este trabalho tem como objetivo estudar as articulações entre concepções da canção popular urbana e a obra musical dos rappers Criolo e Emicida. Para essa abordagem, discutiremos, partindo de amostras de letras de música, a bricolagem como processo que desenvolve uma forma diferenciada de canção, que, nos artistas, está ligada ao gênero musical que os consagrou: o rap. Traçando eixos comparativos entre a bricolagem e o sampling, método que está na base das canções de rap, buscamos compreender como essa dinâmica interfere nas interpretações sobre a canção popular brasileira. As canções dos artistas em estudo selecionadas para este trabalho estão presentes nos álbuns “Ainda há tempo” e “O glorioso retorno de quem nunca esteve aqui”. Verificamos, ao longo da análise teórica, o processo de bricolagem como operador de variados signos que compõem a sociedade brasileira, e isso se evidenciou ao associarmos o cancionista à figura do DJ, que compõe a partir de estilhaços de outras músicas. Atrelado esse processo de recorte e colagem, Criolo e Emicida se colocam no lugar de fala do afrobrasileiro, a partir de uma perspectiva afrodiaspórica, evidenciando, no âmbito da música brasileira, os efeitos de um projeto de modernização no país que trouxe o desenvolvimento às custas do aumento das desigualdades sociais, cujos choques tornam-se evidentes em suas obras.