Descrição
Nos estudos que relacionam escritores contemporâneos e os que compõem a tradição moderna, constata-se um “rebaixamento” da produção literária mais recente, principalmente quando a perspectiva provém da literatura europeia do século XIX. Clarice Lispector, desde Perto do coração selvagem (1944), foi comparada a escritores como James Joyce e Virginia Woolf, pelas técnicas narrativas que utilizara em suas obras, em especial nos quatro primeiros romances. Apesar de atingir a maturidade poética já no final da década de 60, desenvolvendo um método próprio ao seu modo de escrever, frequentemente Clarice continua sendo aquela que leu Virginia, Kafka, entre outros, e que neles buscara a influência pressentida em sua escritura. Este artigo procura discutir este lugar comum, ou seja, trinta anos após a morte da escritora, sua obra ainda se ressente de tal perspectiva crítica. Na realidade, questões como originalidade e “influência”, conceitos hoje ressignificados principalmente a partir do trabalho de Borges, deslocaram a função dos “precursores”.