Descrição
Neste artigo apresenta-se uma análise do corpo da mulher-aia na série The Handmaid’s Tale (2017), em cotejo com o quadro Meu Nascimento (1932), de Frida Kahlo. O método é bakhtiniano e o objetivo é entender como o corpo da mulher é violentado pelo e no regime patriarcal e teocrático da série. A série demonstra como o corpo feminino é coisificado, calcada nos argumentos biológicos e religiosos que Beauvoir considera sustentáculos do patriarcado, ainda que tente apresentar uma posição de resistência. A fundamentação teórica subsidia a análise, especialmente as concepções de linguagem, sujeito, enunciado, dialogia, vozes sociais, reflexo e refração, forças centrípetas e centrífugas, superestrutura e infraestrutura. A justificativa se volta à necessidade e urgência de se falar sobre a axiologia imputada à mulher num enunciado estético que reflete e refrata o sistema patriarcal historicamente constituído e hegemonicamente marcado. O estudo sobre a série, junto do cotejo utilizado, é essencial para se pensar a resistência da mulher. Esta análise contribui para a propagação do conceito de verbivocovisualidade estudado por Paula a partir do Círculo russo, como um desdobramento da teoria que inova a abordagem de enunciados multimodais e alarga o entendimento das concepções bakhtinianas na atualidade. Os resultados revelam o quanto a luta das mulheres por igualdade e respeito é desigual e injusta, dada a diferença de forças (centrípetas e centrífugas) que constituem o jogo de poder de manutenção sistêmica e, por isso mesmo, fundamental se se quer alterar as condições da mulher e das relações sociais e de gênero existentes.