Descrição
No artigo, começa-se por analisar representações sobre astronomia e ciência, bem como sobre Portugal e Brasil, expressas no desenho da exposição Olhar o Céu, Medir a Terra do MAST - Museu de Astronomia e Ciências Afins, como escolhas que exprimem construções e atualizações correntes de memória, num museu da cidade do Rio, que tem vínculos com o Observatório Nacional e com sua inscrição nas práticas nacionais de técnica e ciência. Faz-se isso através do recurso a uma perspectivação, uma fala, próxima dos eixos centrais da exposição, mais derivada de um 'olhar português'. Aporta-se, em seguida, com autores que destacam a importância de se considerar múltiplas vozes - vontade que os museus ultimamente parecem refletir -, embora de certa forma restritas às de 'especialistas' e 'disciplinares', para compor quadros de representações possíveis sobre nacional, que guardam um propósito de afetar a vida.
Dentre as instituições de memória inventadas na modernidade ocidental, os museus de história natural desempenharam a tarefa de procurar conciliar a memória de uma universalidade do saber científico com a construção das particularidades da nação e interesses locais - explicitando uma 'tensão' entre falas que é correlata à crescente reclusão assumida pelo fazer da ciência, e ao estatuto que se lhe confere, em que pese a centralidade da 'natureza nacional' como tema da história política e científica moderna, aspectos que se refletem nos museus, e nas exposições, que lidam com o tema. Por fim, parte-se da noção de Borges (2013) do museu como "intelectual coletivo" para refletir sobre possibilidades de correlação entre "lugares de memória" e memórias coletivas, e, sobretudo, de incorporação de falas e discursos alargados, em produções museais, em particular ligadas a cidade, a território, a nacional, e a sua inter-relação com 'ciência'.
