Descrição
O artigo propõe discutir as imagens da velhice contemporânea a partir das relações entre vigilância, risco e governo de condutas. Trata-se de pensar, segundo uma perspectiva genealógica, como os atuais sentidos de ser velho estão entrelaçados ao regime de visibilidade contemporâneo, em especial, às dinâmicas de vigilância. De fato, a “nova imagem da terceira idade” não é apenas matéria de anúncios de bancos, aplicativos de beleza, comerciais de seguro de saúde ou campanhas de medicamentos sexuais, para citar alguns. Na realidade, ao incorporar progressivamente os velhos no campo produtivo, o neoliberalismo faz circular imagens que servem tanto para conformar um tipo de velhice performática e empresarial quanto para ampliar seu acervo de dados. As redes atuais de vigilância se apropriam, assim, também dos perfis da velhice contemporânea: hábitos de alimentação, cuidados com a saúde, comportamentos de compra, práticas de poupança. Dados que, além de sustentar padrões e tipos de velhice mais “adequados” às dinâmicas atuais, também ancoram intervenções sobre indivíduos e populações, legitimando (ou deslegitimando) investimentos e reformas governamentais. Nessa rede de sentidos, os minuciosos procedimentos de vigilância – que já não se limitam a lugares confinados ou a populações específicas – também não se restringem à nossa atualidade. Tal diagrama opera igualmente quando a velhice é ainda mera expectativa. Trata-se de tornar o processo de envelhecimento, com suas diversas fases e seus efeitos, eterno alvo de monitoramento, minucioso e digital. Algo que se realiza num movimento contínuo de antecipação do futuro, transformando a própria velhice em crescente fator de risco, tanto individual como social.