Descrição
A partir do conceito de autopoiesis, núcleo central da teoria da Biologia da Cognição, desenvolvido por Maturana e Varela, o ensaio aproxima literatura e ciência para abordar a imaginação poética como fenômeno absolutamente capilar à trama interpretativa da vida. Tendo como referência os pressupostos onto-epistemológicos do paradigma da complexidade – fluxo, devir, emergência, não linearidade, abdução e abordagem holística – destaca fragmentos das obras de William Blake e Fernando Pessoa como duas forças poéticas que, em épocas diferentes, resistiram à simplificação da experiência de pensamento imposta pelo paradigma da ciência moderna. Ambos os poetas foram refratários à cultura da disjunção da experiência de pensamento respondendo com uma obra complexa nas quais buscam aproximar dimensões da realidade esquecidas pela racionalidade científica. Blake e Pessoa, ao negarem a objetividade calculável da vida, ousaram ir além do conhecimento do ser e do mundo para afirmar a potência poética da imaginação ao recusar a separação entre linguagem e vida. A atualidade renovadora dessa recusa está na abertura para outros modos de sentir e pensar a experiência de viver no mundo, como devires humanos auto-criadores no operar da vida na simultaneidade de existir em linguagem como modo particular de estarmos sendo humanos: outra inteligibilidade para o mistério da existência.